Relembre a ação “Simbora Testar: um ato de resistência indígena à Covid-19”

Relembre a ação “Simbora Testar: um ato de resistência indígena à Covid-19”
Em setembro de 2020, ocorreu uma ação preventiva e de grande impacto contra a Covid-19 – o
projeto “Simbora Testar” – com a realização de testagem em cerca de 3 mil indígenas, utilizando o TESTE RT-Lamp (por meio da coleta de saliva); de oficinas informativas sobre formas de prevenção; distribuição de kits de higiene e de alimentação entre indígenas de de Pernambuco.
Essa ação aconteceu por meio de uma parceria firmada entre o IMIP, a Organização Social Centro de Prevenção às Dependências, o governo de PE e o Instituto Itaú Social, sendo desenvolvida em momentos distintos nas aldeias Fulni-ô, no município de Águas Belas e posteriormente, Xucuru, no município de Pesqueira. Quando a ação foi realizada, Pernambuco já contava com 13 óbitos entre os indígenas, a maioria Fulni-ô.
Entre os Fulni-ô, a ação aconteceu no final de agosto início de setembro, por ocasião da realização do ritual Ouricuri, que é um ritual sagrado e secreto do povo e que dura três meses. Durante a realização desse ritual – que acontece todos os anos – os quase 5 mil indígenas se mudam para uma aldeia e convivem diariamente em atividades religiosas que se comunicam com os encantados (entidades místicas) para se revigorarem espiritualmente. Como é um ritual secreto, muito pouco se tem conhecimento, pelo sigilo da tradição. O Fulni-ô é considerado o único povo do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa a sua língua original, o Ia-tê, o que demonstra o vigor com o qual preservam sua cultura.
A disseminação do vírus transmissor da Covid-19 se tornou ainda mais preocupante entre os Fulni-ô por três razões: a manutenção de rituais sagrados mesmo durante a pandemia; as condições de extrema pobreza; a falta de estrutura física (saneamento básico); e pelas múltiplas características culturais e sociais, já que os indígenas ficam aglomerados para as suas atividades diárias e, geralmente, dormem em grupos de mais de dez pessoas.
Já entre os Xucuru, a testagem aconteceu nas semanas seguintes e foram priorizados os grupos de risco: idosos, gestantes e indígenas com comorbidades – hipertensos, cardíacos, diabéticos, asmáticos, obesos, pessoas com HIV, hepatites, entre outras.
Antes das testagens aconteciam oficinas educativas, com duração máxima de 40 minutos. Essas
oficinas tiveram por objetivo gerar informações sobre a prevenção ao novo Coronavírus, considerando a cultura indígena. Também, de preparar e garantir que os/as indígenas conseguissem manter o protocolo exigido para a testagem feita com saliva, a saber: estar sem comer, sem beber e, especialmente, sem fumar há uma hora. Essa ressalva foi relevante pela importância do tradicional consumo da XANDUCA – um tipo de fumo que mistura várias ervas locais.
O projeto previu, também, a distribuição de material de higiene e proteção, como máscaras e álcool em gel. A ação foi resultado de uma soma de parcerias: os testes foram disponibilizados pelo Todos Pela Saúde, uma união de empresas privadas mobilizadas pelo Instituto Itaú Social no combate à doença; o material de higiene e as máscaras foram doados pelo Governo de Pernambuco e os profissionais que participaram da testagem e sensibilização foram do IMIP/Saúde Indígena em Pernambuco. A articulação e a logística para fazer os testes chegarem ao laboratório foi do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI – PE).






